Após 10 anos da definição do modelo brasileiro de TV Digital, o fim do sinal analógico passa a ser realidade para os brasileiros. Brasília será a primeira capital a migrar para o sinal digital, mas agora apenas no dia 11 de novembro. Ainda restam 90 mil conversores para serem distribuídos para famílias do cadastro único de assistência social do governo federal, que comporta os beneficiários do bolsa família e de outros programas sociais. Até agora cerca de 270 aparelhos foram distribuídos.
A digitalização permitirá à população assistir televisão com melhor qualidade de som e imagem, além da possibilidade de maior interação e até uma ampliação dos canais disponíveis na TV aberta. Para garantir que o sinal chegue para toda população, o governo planejou a entrega de conversores digitais para beneficiários do programa bolsa família, a partir de recursos advindos do leilão de uma nova faixa de transmissão para empresas de telecomunicações.
“A preocupação maior do Ministério é que a população não fiquem sem ver televisão”, afirma Willian Ivo, gestor do projeto de implantação da TV Digital no Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI). Os aparelhos estão sendo distribuídos em 20 pontos do DF e das cidades de seu entorno.
O prazo seria para esta quarta, mas o Grupo de Acompanhamento da TV Digital (GIRED), que é composto pelo governo e pelas emissoras, decidiu adiar a digitalização total por que o índice de domicílios preparados para receber o sinal ainda não chegou aos 90%. “Quando desligar vai aumentar muito a busca. Estamos intensificando a divulgação para informar a população. Nosso desafio está sendo a comunicação”, afirma Willian Ivo.
Em fevereiro deste ano, Rio Verde, no interior de Goiás, havia sido a primeira cidade brasileira a ter todos os sinais televisivos digitais. Na localidade, a migração foi feita quando o sinal ainda era menor que o nível definido pelo governo de 93% de domicílios preparados para a TV Digital. Foram entregues mais de 16 mil aparelhos para famílias pobres da cidade, estavam reservados até 24 mil conversores.
Arthur Willian Santos, professor da Unigranrio e desenvolvedor de aplicativos para TV Digital, aponta que ainda falta um mapeamento sobre quantos brasileiros de fato acessam a TV Digital. “Não temos dados da quantidade real de pessoas que estão utilizando o serviço, porque a pessoa pode ter a TV digital em casa e usar a TV por assinatura ou serviços de vídeo sob demanda e a internet”, diz. Para ele, como nenhum cronograma estabelecido foi cumprido, a consequência é que o serviço ainda é pouco utilizado.
A região metropolitana de São Paulo será a próxima localidade a migrar a televisão totalmente para o digital em março de 2017. A maior cidade do país terá disponível cerca de 1,6 milhão de conversores para serem distribuídos para famílias carentes. No próximo ano, as capitais Goiânia, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Campinas, Vitória e Rio de Janeiro, entre outras, também desligarão o sinal analógico.
TV Digital no Brasil
A digitalização da TV no Brasil teve início em 2006, com um decreto presidencial estabelecendo o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, ou SBTVB-T, a partir da tecnologia japonesa (ISDB-T) e de algumas inovações criadas no país, como o aplicativo de interatividade Ginga.
“A opção do padrão japonês foi por ser o melhor na época, com melhoria na qualidade do som da imagem e do vídeo, a questão da mobilidade e portabilidade, da multiprogramação e da robustez do sinal”, afirma William Ivo, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Para o professor Arthur Willian, o processo de digitalização da televisão foi uma oportunidade perdida pelo país. “O processo (da TV Digital) permitiria uma série de inovações na televisão, que passaria a ser um serviço multimídia, mas o que na verdade vimos foi apenas a digitalização do sinal da TV analógica”, afirma. A multiprogramação só foi regulamentada para as emissoras públicas.
Santos considera que a ampliação de canais abertos, que promoveria uma diversidade na TV , não foi alcançada, sendo que parte da faixa da radiodifusão está agora sendo destinada aos serviços de telecomunicações. Mas para Willian Ivo, do MCTI, os radiodifusores nunca mostraram interesse na divisão do sinal em vários canais. “Para você ter um multiprogramação você terá quatro gerações diferentes, teria 3 ou 4 vezes os gastos”, aponta Ivo.
O professor ainda questiona a falta de investimento na interatividade, que permitiria o acesso a diversos serviços de governo eletrônico e de conteúdos interativos. “As empresas não investiram na interatividade porque poderia tirar o foco no conteúdo audiovisual, que é onde está a publicidade”, ressalta Arthur. “Somente as emissoras públicas que estão utilizando (os aplicativos de interatividade pela ferramenta Ginga)”, afirmou Willian Ivo.
Novos canais públicos e estatais
O novo Sistema Brasileiro de TV Digital também previu a instalação de novos canais estatais e públicos na TV aberta. Foi previsto espaço para o Canal do Poder Executivo, Canal de Educação, Canal de Cultura e do Canal de Cidadania.
A regulamentação do Canal da Cidadania foi estabelecida pelo antigo Ministério das Comunicações em 2012. Segundo o professor Arthur Willian, até o momento, apenas Salvador implementou seu canal da cidadania a partir da TV pública estadual. Mesmo com o canal em funcionamento, a multiprogramação com canais comunitários ainda não foram disponíveis.
Já em 2015, foi viabilizado que o Canal do Executivo fosse transmitido em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que em suas geradoras, passaram a transmitir o canal NBR de forma secundária nas cidades de geração da TV Brasil, canal público da EBC. Também foram regulamentados os canais da Educação e da Cultura, previstos no Sistema de TV Digital que ainda não estão em funcionamento. Em contrapartida, os já existentes TV Escola e Canal da Saúde, também passaram a dividir o sinal digital com a TV Brasil.
Como sintonizar a TV Digital
Qualquer televisão poderá acessar a TV Digital. Televisores novos, de LCD, LED ou plasma, comprados a partir de 2011, já vem com receptores instalados. Mas para TVs mais antigas, de tubo ou tela fina, precisarão de conversor digital e uma antena UHF, ambos vendidos em lojas do ramo. O governo espera até um aquecimento do mercado com o processo de desligamento do sinal analógico.
De forma a garantir o sinal para todos brasileiros, o governo estabeleceu que beneficiários de programas sociais terão o direito de receber o kit digital para instalar em seus televisores. A distribuição dos conversores será realizada pelas empresas de telecomunicações, de forma escalonada de acordo com o calendário de desligamento do sinal analógico. Para mais informações, foi criado o telefone 147 ou no site www.sejadigital.com.br .