O Fórum de Reportagem Sobre a Crise Global de Saúde idealizado pela Internacional Center for Journalist que reúne Jornalistas de diversos órgãos de Imprensa do Brasil, Europa e Estados Unidos da América, abordou na segunda-feira (27/07), por meio de sua Webinars o tema: “Vacina contra COVID-19:perguntas e respostas”.
No mundo todo já são mais de 150 candidatas a vacina contra COVID-19. Cerca de 20 já estão na fase de testes em seres humanos, algumas delas no Brasil.
Podemos ficar otimistas ou melhor encarar estes números com cautela? O quão próximos estamos de uma solução eficaz contra no novo coronavírus? É possível que nenhuma delas funcione? Para ajudar a responder estas e outras perguntas sobre vacinas e COVID-19 o Fórum de Reportagem da ICFJ convidou para uma conversa a Dra. Joana D’Arc, médica infectologista e professora universitária, e a Dra. Sylvia Lemos, médica infectologista e doutora em medicina tropical.
Paciência
Perguntada quanto ao possível prazo para liberação de uma possível vacina contra a COVID-19, Dra. Sylvia Lemos, médica infectologista e doutora em medicina tropical, destacou a paciência como principal fonte de prognóstico.
“A primeira palavra que aprendi quando passei a rever esses estudos de vacina, é que o prazo é a paciência, esperar o tempo da ciência, podemos ter algumas possibilidades até o final do ano e outras a partir de janeiro de 2021, mas o prazo em si é de doze a dezoito meses, para ter algo mais seguro” disse Sylvia Lemos.
A Dra. Joana D’Arc destacou a importância em saber que se trata de um tema muito delicado e importante, e as vacinas só podem ser disponibilizadas mediante testes adequados de eficácias e segurança. “Apesar das fases de desenvolvimento estarem em fase aceleradas a gente não pode pular etapas, então é preciso ter calma, manter as medidas que evitem a transmissão da doença, até que tenhamos essa vacina para voltar à normalidade. Esse prazo de 12 a 18 meses é o menor prazo possível para se ter uma imunização e mesmo neste prazo não haverá como imunizar todos, vai ter que ter as opções, qual serão primeiro se os mais vulneráveis, por que a questão da produção, fabricação e a execução de tudo isso demora um tempo, então mesmo tendo essa perspectiva a gente tem que ter cuidado, pois talvez não tenha vacina disponível para toda população do mundo de forma rápida”, disse.
Segurança
Dra. Sylvia Lemos lembrou que é preciso ter segurança dos pesquisadores para lançar vacinas. “Algumas vacinas não tiveram segurança necessária e se perdeu a pesquisa. Assim, diante uma pressão tão grande quanto essa, todo mundo achando que tendo a vacina tudo voltará como era por conta da vacina, não é bem assim e nos desenhos destas vacinas, já tem elencado quais são os grupos para os testes, para depois ter a distribuição” frisou, ressaltando que “Por tanto é preciso ter segurança que são duas partes: a segurança imediata, ou seja, quais a reações imediatas que vão acontecer, que são essas que foram divulgadas na semana passada e a de longo prazo que entra a forma de vigilância, por tanto não é algo se pode dizer o produto está pronto e vai ser usado e até logo, não é bem assim, por isso o jornalismo é muito importante para levar isso as pessoas, aquela ideia que a vacina de Oxford ou a chinesa são a solução dos nossos problemas, poderá vir a ser, mas haverá uma série de etapas”.
Para Dra. Joana D’Arc é importante entender que nós sabemos muito pouco quanto a imunidade associada ao vírus. “A gente tem a possibilidade de ter uma vacina em curto período de tempo e ai será que vai valer a pena imunizar todo mundo, com a imunidade durando de três a cinco meses?, toda logística que será utilizada e com imunidade temporária?” salientou enfatizando que “por que muita coisa ainda está sendo estuda pela comunidade cientifica, apesar de que a comunidade cientifica está adiantada por que já conhecia parte desta família de vírus, já tem um conhecimento prévio que ajuda neste desenvolvimento de vacina, a gente tem um sequenciamento do genoma viral, se tem um avanço tecnológico, quando a gente fala da tecnologia de bioengenharia para produzir a vacina de forma mais cérebro, a gente tem o encurtamento da linha do tempo , além do fomento do governo que esta investindo muito dinheiro para o desenvolvimento da vacina , tudo isso ajuda para desenvolver mais rápido, mas uma imunidade duradoura ainda é uma incógnita, precisamos confiar mas também estar com o pé no chão”.
Vírus esperto
Em relação a demora no desenvolvimento de uma vacina a Dra. Sylvia Lemos, disse que fez uma revisão dos estudos do tempo de desenvolvimento das vacinas que ajuda a entender o processo de sua pesquisa e eficácia. “Para malária busca se uma vacina a 140 anos, ninguém encontra. O ebola levou 57 anos e ainda assim apenas cinco anos atrás conseguiram. A vacina é custosa. Essa vacina para Coronavírus, está saindo rápido por que a pessoas se juntaram, os laboratórios não estão trabalhando separadamente, existe um pool de pesquisadores, com várias pessoas em um mesmo objetivo. Existe a locação de recursos de uma vez, isso tudo faz que seja possível” frisou, enfatizando que “tem ainda o que a gente chama da esperteza do vírus, o genoma deste vírus descobriram em janeiro deste ano. Oxford saiu na frente por que já tinha alguma coisa mas se não fosse assim, as coisas não sairiam tão rápidas, isto é importante que a pessoas saibam. Ninguém sabe a esperteza do vírus, olha o casos da AIDS quarenta anos que buscamos algo e o vírus é inteligente rimo, é complicado você conseguir a efetividade e número de doses, o anticorpos, a segurança imediata ou a longo prazo, vejam a dengue a vacina não funcionou, tem até vacina que foi tirada do mercado por questões de segurança” explicou.
A Dra. Joana D’Arc pontuou que existe uma dificuldade na produção de vacina, pois existem várias etapas, onde passa por uma proposta de vacina seguindo para análise do comportamento do vírus após meses, tendo segurança do ambiente passa para fase de testes.
“A fase animal utilizando ratinho, vai analisando o comportamento do vírus da vacina e do comportamento da doença neste animal, para em seguida passar o teste em macacos e depois segue para os testes em humanos. Em virtude da pandemia essas fases estão sendo feitas de forma paralelas, mas sempre foram feitas por etapas, são diversas etapas ao mesmo tempo dando mais serenidade e custo para desenvolver a vacina” destacou, “e tem a produção da vacina com os procedimentos científicos, com cuidado, avaliação, que torna o desenvolvimento demorado”.
Aceleração e consequências
Conforme disseram durante a entrevista o processo de aceleração na produção de vacina podem trazer consequências.
“Primeiro lugar quando você acelera, não tem tempo de observar a consequência. Por exemplo, tanto os testes da produção chinesa quanto da Oxford, foi observada que dá endurecimento do local, dói, pode dar febre e até dor de cabeça. Então se acelerar uma produção você pode ter uma vacina que dura apena seis meses. E não estamos em um ranking de quem vai encontrar primeiro a vacina, é importante saber que uma pode ajudar a outra” disse Sylvia Lemos
“É preciso ter muita cautela, acelerando as etapas nem sempre você conseguirá captar os problemas associados a vacina. Além disso existe o fator epidemiológico, o ideal é ir por grupo de riscos e sempre passando pelos órgãos fiscalizadores que estarão sempre monitorando “disse Dra. Joana D’Arc.
Brasil
Dra. Sylvia Lemos lembrou que o Brasil tem boa reputação na produção de vacina, existem bons grupo de pesquisas uns com mais aportes financeiros, e que a pesquisa em cima da produção de uma vacina para o Coronavírus acelerou por que existe uma confluência de interesses e trabalhos simultâneos.
“Existem hoje pesquisadores brasileiros que não tem esse aporte financeiro tão grande, para desenvolver tudo tão rápido, mas que são pessoas capaz. Por exemplo, em Minas Gerais temos o Ricardo Gazzienneli, com uma vacina dois em um, que pega o Vetor viral de Oxford e a influenza, existe outro pesquisador com vacina em partículas inertes e tem um grupo também de Minas Gerais com Dr. Célio Costa que está tentando usar BCG como vetor para buscar imunidade, outra da USP que utilizam nano partículas e ainda tem uma da Fiocruz do Rio de Janeiro usando a Bioinformática, vejam a gama de ideias e tecnologias utilizadas, porém elas levarão mais tempo, provavelmente só no próximo ano ou depois, em virtude dos investimentos” disse, ressaltando que “tanto na vacina dos chineses como da Oxford, como da Butantã e da Fiocruz, eles assinaram os contratos de transferências de tecnologia, não é apenas vir aplicar e ir embora. Farão os testes mais terão o compromisso de transmitir a tecnologia, podendo produzir essas vacinas”.
Joana D’Arc explicou que no Brasil trabalha geralmente com 04 tipos de vacinas dependendo de qual tipo de tecnologia será utilizada, as mais comuns são microrganismos vivos ou atenuados, e a outra é utilizar as partículas virais como é o caso do Butantã, que estão produzindo uma vacina apenas com as proteínas.
“No Brasil tem algumas empresas trabalhando com proteínas e existe uma fórmula com vetor viral que no momento tem sido mais promissor, utilizando principalmente o adenovírus. Uma das vacinas de Oxford estão utilizando o adenovírus e a quarta forma de produção é a com RNA Mensageiro também com resultados promissores, sendo utilizado nos Estados Unidos e na Alemanha” explicou D’Arc.
“Os custos da vacina estão maiores, para chegar esse momento de aplicar é um longo caminho e vai muitos recursos, tem a questão de custo e benefício, algumas mais baratas outras com efeitos colaterais, é um momento de juntar forças vendo o que é viável para cada pais, tem umas que é melhor que a outra em determinadas comunidades”. disse Joana D’Arc.
Prevenção
A Dra. Sylvia Lemos reforçou a importância de seguir os quatro pilares de prevenção ao novo coronavírusCOVID-19, o uso da máscara, higienização das mãos, o distanciamento físico e o distanciamento social.
“A gente não sabe como o coronavírus vai ficar, sendo um ser invisível muito esperto. A vacina é algo sensível e precisa ter responsabilidade “finalizou.
Joana D’Arc também destacou a importância dos quatro pilares para prevenção e do papel fundamental do jornalismo para informar a população de forma correta.