O Fórum de Reportagem Sobre a Crise Global de Saúde idealizado pela Internacional Center for Journalist que reúne Jornalistas de diversos órgãos de Imprensa do Brasil, Europa e Estados Unidos da América, abordou nesta terça-feira (16) o tema: Como entender e interpretar os números da COVID-19, tendo como convidado para o bate papo, Benilton de Sá Carvalho, professor da Unicamp e pesquisador na área de Bioinformática e Epidemiologia, doutorado em Bioestatística pela Universidade Johns Hopkins e trabalha com modelagem preditiva de eventos associados ao combate da COVID-19 (casos, óbitos, leitos e EPIs).
O Brasil já é o segundo o país mais infectado pela COVID-19 no mundo. Mas é muito difícil reportar os números da pandemia: o governo dificulta cada vez mais a divulgação de informações e as nuances destes dados são muitas. Como comparar países, saber em qual projeção confiar e interpretar corretamente estes números? Foi por meio desta descrição que Benilton de Sá Carvalho, abordou o tema destacando os mais de 900 mil casos com 45 mil mortes segundo dados do Ministério da Saúde, que pode levar o Brasil ao epicentro da Pandemia.
“O Brasil caminha para ser o epicentro, hoje ocupa a triste posição da vice liderança atrás apenas dos Estados Unidos, pois possui um grande potencial de assumir a liderança em algum momento no futuro, uma vez que vem sofrendo muito com a negação por parte de boa parte da população e em especial alguns gestores públicos” disse.
Um dos temas em debate foi a Subnotificação, que segundo o especialista dificulta a coleta de números confiáveis, ocorrendo por diversos motivos tendo como destaque a densidade populacional e demográfica do Brasil.
“Um estudo interessante em andamento, o ECovid 19 coordenado pela Universidade Federal de Pelotas, que faz um levantamento da exposição ao vírus, financiado pelo Ministério da Saúde fazendo coleta em todo país. Temos muitos casos de pessoas que não sentiram sintomas, sem manifestar sintomas, segue a vida não sendo contabilizado, sendo também uma questão de cultura que acaba sendo exposto ao vírus, porém muitos destes casos não conseguimos detectar, continuam suas vidas como se nada tivesse acontecendo” explicou.
Outro fator apontado foi a de densidade geográfica, que contribui para o quadro de subnotificação tendo como principal causa o fato do Brasil comparado a outros países, possuir uma densidade demográfica superior aos de outros países, como por exemplo os da Europa.
“Além de tudo temos um sistema de saúde que já não vinha bem, e com o aumento dos casos demonstrou suas dificuldades e problemas adquiridos há tempos comprometendo o serviço de controle da COVID-19”.
Benilton também lembrou dos dados de Síndrome de Respiração Aguda Grave como uma alternativa para medir as subnotificações e os Testes Rápidos da Covid-19 que muitas vezes aponta falso negativo ou positivo.
“Sem dúvida a Síndrome de Respiração Aguda Grave podem servir como próteses para estimar os casos de subnotificações, um exemplo clássico, é Belo Horizonte que reporta a poucos casos, porém quando se faz o levantamento da síndrome de respiração aguda grave você vê um aumento significativo e observa que esses casos e os óbitos, são semelhantes no que seria da COVID-19, no entanto as informações que se tem é a existência de pouco caso”.
Em relação aos testes rápidos, o Professor adiantou que qualquer teste seja sorológico ou PCR, todos tem chance de falso positivo ou negativo independente do teste que esteja fazendo.
“Porém existe o tipo de risco que a pessoa está sendo testada, seja mínimo, mas ainda é uma luz nesta escuridão inteira, precisa existir estudos preliminares que mostrem o que são essas taxas de falso negativo e positivo dos testes. Poderíamos reduzir o número de erros de forma simples, repetindo os testes, é o que o ECovid tem feito”.
Perguntado a respeito do indicador mais confiável para seguir a evolução da COVID-19 no Brasil, se seria o número de mortes ou de casos confirmados, Benilton disse depender de qual aplicação desejam fazer. “Qual sua preocupação naquele momento. Um diretor de Hospital, por exemplo, qual a preocupação no momento é manter a infraestrutura hospitalar disponível para os possíveis candidatos ao atendimento. Neste aspecto seria uma mistura de possíveis casos e óbitos, pensando o que precisaria leitos de enfermarias vezes número de UTI’s, pensando em gestão público, pensando com mais carinho nos casos ditos, mas ai teríamos que ver as subnotificação e neste caso vai subir rápido, neste caso vai subir por que a doença está avançando ou por conta do aumento da testagem, dependendo da realidade de cada local” explicou ele.
“Se fizermos o desenho da curva, o número de novos casos por dia comparado ao número de óbitos por dia, a gente começa a esperar é que o pico de novos casos venha antes que os óbitos. É complicado pensar qual a melhor métrica, minha escolha pessoal é ver com mais frequência as curvas de óbito, que já aparecem testados”.
Ele exemplificou, a pessoa que hoje apareceu com coriza, após dez dias vai procurar médico e depois de uma semana terá o resultado de exame, ou seja, entre começar a desenvolver o sintoma e ter ou não a positivação já tivemos quinze dias de perca. Quanto aos números expressivos de casos no Brasil e números reduzidos em outros países, o pesquisador disse que é preciso fazer uma comparação com número de habitantes e a densidade geográfica, já que São Paulo, por exemplo, é maior que vários países da Europa.
“É preciso levar em consideração densidade populacional, faixa etária é que para todos os fatores. A Suécia a maioria mora sozinha, enquanto no Brasil tradicionalmente neto mora com a mãe, que mora com a avó, isso já torna a situação complexa. Era preciso propor um modelo gráfico para mensurar esta diferença”.
Benilton Sá concluiu lembrando que atualmente muitos brasileiros não acreditam em uma possível contaminação, mesmo na probabilidade de contaminação ser maior que do cidadão ganhar na loteria.
“O mesmo brasileiro que acredita na possibilidade de ganhar na loteria com uma chance em quinhentos milhões, não acredita que será contaminado em uma cada quatrocentos mil, assim continuará andando de qualquer jeito sem precaução. É preciso fazer um melhor trabalho de comunicação entre a população” finalizou.