Rio Paraguai registra nível mais baixo da história em meio à seca extrema no Pantanal

O Rio Paraguai atingiu o nível mais baixo já registrado, conforme dados do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), marcando 62 centímetros abaixo da cota de referência no posto de medição de Ladário (MS), perto de Corumbá, na fronteira com a Bolívia. O recorde anterior, de 1964, era de 61 centímetros abaixo da referência. As medições no local começaram em 1900, realizadas pela Marinha.

A cota padrão do rio é de 5 metros, conforme o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), que já havia alertado sobre a situação crítica na última quarta-feira (9). O posto de Ladário é referência para a Marinha nas análises de navegação e na determinação de medidas de restrição.

O Rio Paraguai atravessa os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e segue em direção ao Paraguai e à Argentina. Sua bacia, alimentada por águas da Amazônia, como as do Rio Negro, enfrenta uma seca histórica, afetando diretamente o Pantanal, a maior área úmida contínua do planeta. A Agência Nacional de Águas (ANA) destaca que a Região Hidrográfica do Paraguai abrange 4,3% do território brasileiro, englobando grande parte do Pantanal.

Segundo o SGB, a situação de seca já era prevista desde fevereiro, quando pesquisadores alertaram para o risco de uma baixa histórica. “As chuvas abaixo da média desde outubro de 2023 contribuíram para essa crise hídrica, algo que já vínhamos observando e alertando”, explicou o pesquisador Marcus Suassuna.

A queda do nível do Rio Paraguai tem sérias repercussões econômicas e ambientais, afetando o turismo, a pesca e o abastecimento de comunidades ribeirinhas. Especialistas atribuem essa redução à variabilidade climática e à escassez de chuvas na bacia, o que coloca o Pantanal, um dos biomas mais sensíveis do planeta, em situação de vulnerabilidade, comprometendo tanto sua biodiversidade quanto as populações locais.

Recuperação lenta e projeções preocupantes

De acordo com o SGB, a recuperação dos níveis do Rio Paraguai será lenta. Em Ladário, o nível deve permanecer abaixo da cota até a segunda quinzena de novembro. As chuvas recentes ajudaram a estabilizar a descida do rio, mas as precipitações previstas não serão suficientes para uma recuperação rápida, segundo Suassuna.

Nos últimos anos, as estações chuvosas têm sido insuficientes para reabastecer as reservas hídricas. Durante a estação chuvosa de 2023, houve um déficit acumulado de 395 milímetros (mm), com apenas 702 mm de precipitação, abaixo da média histórica de 1.097 mm. Desde 2020, o déficit acumulado chega a 1.020 mm, o equivalente ao total de um ano hidrológico.

Recentemente, a bacia registrou apenas 3 mm de chuva. A exceção é o Rio Cuiabá, que se mantém dentro dos níveis esperados, graças à regulação de vazões pela Usina Hidrelétrica de Manso. Já em Porto Murtinho e Barra do Bugres, o Paraguai atingiu os menores níveis já registrados.

Navegação em risco

A Marinha emitiu alertas sobre as condições críticas de navegação no Rio Paraguai. Devido ao aparecimento de bancos de areia e rochas, os navegantes devem redobrar a atenção, utilizando cartas náuticas atualizadas e mantendo velocidade segura. Além disso, é necessário consultar os boletins diários disponíveis no site do Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste.

A hidrovia do Rio Paraguai, um corredor estratégico para o transporte de cargas agrícolas e minerais, está entre as seis hidrovias prioritárias para concessão à iniciativa privada pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Contudo, o aumento do consumo de água, decorrente da intensificação das atividades econômicas na região, agrava ainda mais a crise hídrica.

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