O 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado, de Ponta Porã, promoveu uma solenidade para relembrar os 50 anos de um dos maiores acidentes da aviação brasileira. A tragédia, ocorrida em 18 de setembro de 1974, resultou na morte de 19 militares, componentes da Aeronáutica e do Exército. Apenas um militar sobreviveu, o sargento da Aeronáutica Shiro Ashiushi.
A data foi relembrada numa solenidade realizada no local em que caiu o avião, cerca de 500 metros do Aeroporto Internacional. Ali foi construído um monumento, chamado Votivo, que homenageia as vítimas do acidente aéreo. Fica ao lado do Parque dos Ervais, a maior área de lazer e esporte da cidade.
Este ano, a solenidade foi assistida pela comerciante Ana Maia. Ela contou que era criança quando ocorreu o acidente, fato que marcou profundamente sua infância. “Até hoje me emociono com esta história. Já faz muito tempo, porém, me lembro em detalhes do ocorrido. Eu morava aqui perto e vim correndo ver o que tinha acontecido. Foi muito triste”, afirmou.
Como faz todos os anos, Celina Filomena Dias, viúva do sargento Hercules Santos Campos, que morreu no acidente, vem de Campo Grande e traz a família para prestigiar a solenidade. O filho, Marco Aurelio, neto do Sargento Hercules, fala em nome da família. “Quero agradecer aos componentes do 11º RC Mec. por esta homenagem em memória do meu avô e de todos aqueles 19 homens honrados que serviram está pátria e que tiveram suas vidas ceifadas no trágico acidente com a aeronave C-115 Buffalo”.
Quem também participa todos os anos da solenidade é a advogada aposentada Belmira Villanueva, personagem que teve grande participação no dia do acidente. Ele ajudou a salvar o único sobrevivente da tragédia, conseguindo retirar o Sargento Shiro do meio dos destroços do avião em chamas para que ele fosse levado ao hospital. “É muito triste lembrar deste dia. Aqui morreram homens que estavam a serviço da Pátria, trabalhando pelo Brasil”, afirmou.
Belmira sempre participa da cerimônia especial colocando uma Corbélia de flores no monumento que homenageia as vítimas do acidente. Este ano, ele foi acompanhada pela pequena Maria Clara, bisneta do Sargento Hércules.
O neto de Hércules, Marco Aurelio leu uma mensagem da família e também entregou uma placa mencionando os 50 anos da tragédia ao comandante do “Onze”, Tenente Coronel Alexandre que comandou a solenidade.
Ele fez questão de agradecer ao convite feito à família para prestigiar a solenidade. “Agradeço, pela forma como o Exército manteve e continua mantendo firme a lembrança e as homenagens a todos esses guerreiros. Não tive o prazer de conviver com o meu avô. Minha mãe Neiva, filha do 2º Sargento Hercules Santos Campos, tinha 5 anos apenas, quando perdeu o pai. Minha avó Celina, tinha 24 anos quando perdeu seu marido, o 2º Sargento Hercules, que era um dos mais jovens militares daquele acidente, com apenas 28 anos”.
O ACIDENTE
O acidente com o avião ocorreu no dia 18 de setembro de 1974. É considerado um dos maiores desastres aéreos da história do Brasil. O C-115 Búfalo, pertencente à Força Aérea Brasileira, se espatifou no chão, num imóvel localizado bem perto do Parque dos Ervais, na Rua Comandante Cardoso. Ao todo morreram 19 pessoas. Todos militares e a maioria de alta patente. Eles estavam vindo à fronteira para fazer uma inspeção no quartel do 11º Regimento de Cavalaria.
O acidente teve apenas um sobrevivente, que escapou da morte depois de ter sido arremessado da aeronave. Socorrido por populares, recebeu atendimento médico no antigo Hospital santa Izabel e, após ter as pernas amputadas, conseguiu sobreviver.
O sargento Shiro Ashiushi foi socorrido por uma corajosa jovem, chamada Belmira Villanueva. Belmira retirou o jovem militar do meio dos escombros do avião, atitude reverenciada por todos que acompanharam, na época, a tragédia. Por este ato heroico, Belmira recebeu a mais alta condecoração da Aeronáutica.
Hoje, no local em que o avião se espatifou, existe um monumento chamado Votivo, construído pelos militares para manter viva a memória do acidente. A área pertence ao Exército e é cuidada pelo “Onze”.
Entre os 19 mortos, estavam o Coronel Aviador José Hélio Macedo de Carvalho e os generais de Divisão, Alberto Carlos de Mendonça Lima e de Brigada, Ângelo Irulegui Cunha, respectivamente comandantes da Base Aérea de Campo Grande, da 9ª Região Militar (atual Comando Militar do Oeste) e da Brigada de Cavalaria.
O Monumento Votivo foi revitalizado recentemente. Ele reproduz uma cruz e os 19 mortos são lembrados com reproduções de pétalas pretas. A única pétala com cor diferente, vermelha, lembra do sobrevivente, o Sargento Shiro Ashiuchi.
O Monumento Votivo, idealizado pelo arquiteto Carlos Cardinal, fica na Rua Comandante Cardoso, ao lado do Parque dos Ervais. Bem perto do Aeroporto Internacional de Ponta Porã. Ao lado dos nomes das vítimas, algumas palavras impressas no cimento revelando ao visitante do local ensinamentos sobre a brevidade da vida. As frases são as seguintes: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”.