Um caso que poderia ter passado como o encontro de um recém-nascido abandonado encontrado em uma das ruas de Ponta Porã, acabou se transformando em caso policial com ares de novela do horário nobre.
Na madrugada desta quinta-feira (10) um menino que tinha acabado de nascer foi levado por uma mulher de 26 anos para o Hospital Regional Dr. José de Simone Netto enrolado em um saco plástico e lutava pela vida. O trabalho imediato dos profissionais de saúde foi dar todo suporte e cuidado na tentativa de salvar a criatura prematura de 25 semanas de gestação. Todos os protocolos médicos foram acionados e devido ao quadro de saúde o menino teve que ser transferido para o Hospital Universitário de Dourados, referência em tratamento de recém-nascidos em estado grave.
A história contada pela mulher, mãe de três filhos e que na versão dela, estava indo trabalhar quando escutou o choro da criança e foi socorre-la não estava convencendo alguns dentro do hospital. Mesmo naquele ambiente agitado em situações normais e em erupção por causa da pandemia do coronavírus, a verdade da caridosa senhora, escondia um crime. E crime é a especialidade de outros profissionais, não os de medicina ou enfermagem.
Policiais do Setor de Investigações Gerais da Polícia Civil (SIG) foram chamados e aos poucos a trama montada pela dona de casa foi sendo desmantelada. Em conversa com o delegado do caso e com os investigadores, a verdade foi ficando mais alva que as paredes dos ambulatórios e consultórios do Hospital Regional. Com técnica, inteligência e experiência de quem está acostumado a lidar com o submundo do crime, os policiais foram colocando a mulher na lona.
Para quem tinha passado a noite acorda, o cansaço era um ator que não contracenava com a verdade e ela acabou confessando que tudo não tinha passado de uma tentativa de aborto, onde o feto que era para ser descartado tinha resolvido ser o ator principal de um filme que ainda está sendo rodado.
Os policiais do SIG conseguiram descobrir que mais duas pessoas tinham participado do ato. Uma adolescente de 17 anos, que por cerca de sete meses escondeu da mãe uma gravidez indesejada e que por fim usou um abortivo para interromper a gestação e a irmã dela de 23 anos, dona da casa onde o aborto foi tentado e que viu de perto o sobrinho teimoso vir ao mundo mesmo sem ter sido planejado. Coisa de filme, né?
Mas voltando à realidade, a adolescente, a irmã e a mulher que levou a criança para o serão agora indiciadas pela polícia e o garotinho continua lutando pela vida na UTI Neonatal do Hospital Universitário de Dourados.
Já os policiais do SIG voltaram para casa com o sentimento do dever cumprido e a certeza de que novos crimes terão que ser desvendados. E os profissionais de saúde continuam no drama de salvar vidas enquanto cuidam para também não virarem estatísticas negativa neste ano de 2020 que ainda não sabemos como será seu último capítulo.