A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), por meio do Programa UEMS Acolhe e da Pró-reitoria de Ensino (PROE), ofertou, no início de julho deste ano, vagas no Processo Seletivo de Ingresso aos Cursos de Graduação para Refugiados, Migrantes em Situação de Vulnerabilidade e Apátridas. Tratou-se de uma iniciativa pioneira de impacto social na vida da população estrangeira em situação de vulnerabilidade no Estado.
Os candidatos aprovados na 1ª Chamada iniciaram as matrículas nesta semana, no período de 3 a 9 de agosto (não considerando o sábado e domingo, dias 6 e 7, respectivamente). No ato da matrícula, os candidatos devem apresentar seus documentos pessoais relacionados no Edital Nº 48/2022 de Convocação para Matrícula. O edital ofertou vagas para 49 cursos e as aulas, para os cursos semestrais, iniciarão neste mês agosto de 2022 e, em fevereiro de 2023, para os cursos anuais.
O edital para Refugiados, Migrantes em Situação de Vulnerabilidade e Apátridas é um desdobramento de um dos grandes projetos institucionais da Universidade, sob coordenação do prof. Dr. João Fábio Sanches, e vinculado à Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (PROEC), o Programa UEMS ACOLHE. “O Programa tem procurado nos últimos anos promover ações com a finalidade de atendimento diferenciado a comunidade migrante internacional no nosso estado, seja com os cursos de Português como Língua de Acolhimento, seja com as Oficinas Temáticas voltadas a orientações de naturezas diversas sobre direitos fundamentais desta população”, informou o coordenador.
O processo seletivo de ingresso de migrantes internacionais nos cursos de graduação da UEMS vem consolidar nossas aspirações para uma formação completa destes indivíduos, possibilitando acesso a um ensino superior gratuito e de qualidade, além de uma possível readequação profissional”, destacou o docente da UEMS. Para João Fábio, a expectativa de todos nós é que estes novos acadêmicos possam ampliar nossa perspectiva de acolhimento, de troca de culturas e de experiências, o que irá contribuir para com o crescimento de toda comunidade acadêmica da Universidade.
“A entrada destes novos alunos internacionais se deu a partir das notas de Linguagem e Matemática registradas no histórico escolar do ensino médio, sendo concluído no país de origem deles ou mesmo no Brasil, abrangendo pessoas que se enquadrem como refugiados, migrantes internacionais e apátridas, o que possibilitou a ampliação do número de inscritos”, concluiu o professor.
A técnica Jucilene Alves, chefe da Divisão de Ingresso Discente (DIND) da Pró-reitoria de Ensino (PROE) da UEMS detalha que foram inscritos 172 candidatos durante o período de 6 a 20 de julho. “A maioria dos inscritos (65%) se enquadra na situação de migrante em situação de vulnerabilidade e tem como país de origem a Venezuela (60%). O curso com maior número de inscritos/as foi o de Enfermagem de Dourados, seguido de Turismo e Letras, hab. Português/Espanhol e Letras, hab. Português/Inglês de Campo Grande”, detalhou Jucilene.
O Edital de convocação para matrícula da 1ª Chamada foi divulgado no dia 02 de agosto, sendo convocados/as 118 candidatos/as, com as matrículas a realizar-se presencialmente entre os dias 03 a 09 de agosto. “Foi uma experiência gratificante para a DIND/PROE, que teve um olhar voltado para o ingresso de discentes estrangeiros na UEMS, levando a equipe juntamente com o setor de acolhimento, a pensar, discutir e implementar novas estratégias de seleção, documentação, tradução do Edital para outros idiomas e adaptação do formulário de inscrição para que os candidatos conseguissem realizar o processo sem dificuldade e garantir o acesso à todos dentro da Universidade”, pontou a servidora da UEMS.
Diferentes histórias, mas todos buscam um recomeço
Jean Luc Janvier, de 32 anos, não deixou a oportunidade passar e no primeiro dia de matrícula já se apresentou na secretaria do curso de Letras Português/Espanhol, na UEMS em Dourados. Ele veio sozinho da República Dominicana, no Haiti, em 2016, em busca de uma vida melhor e emprego. “Um amigo que trabalha em um hotel, na República Dominicana, conheceu um douradense que estava hospedado lá. O homem disse que havia trabalho em sua empresa, então saí de lá, desembarquei em São Paulo e vim direto para Dourados”, lembrou.
Quando chegou ao Brasil ele não sabia nada da Língua Portuguesa, apenas a Língua crioula haitiana e Francês (línguas oficiais do Haiti) e, também, um pouco de espanhol e inglês. Superando as dificuldades do idioma, Jean Luc Janvier quer ingressar no curso universitário para melhorar sua condição financeira. “Vim para trabalhar, porém como sou estrangeiro trabalho como ajudante, mas se eu estudar e aprender, posso trabalhar como um profissional e vou poder ter um emprego com salário melhor”, destacou.
O casal, Luisa Ines Barreto Ortiz e Francisco José Yzazzy Hernandez, chegou da Venezuela junto com o filho pequeno no final de 2021 e irão fazer Pedagogia na UEMS, em Dourados. Ela é formada em Medicina desde 2011 e coordenava um centro de saúde, e Francisco é professor de Artes Plásticas e trabalhava no Museo Mateo Manaure na área de cultura e de organização de eventos culturais, em Maturín, na província de Monagas.
Luisa queria fazer medicina, mas como não há vagas ela não quis perder a oportunidade e irá fazer Pedagogia. Eles queriam voltar a estudar, mas não sabiam como e numa oficina de migração que participaram ficaram sabendo do processo seletivo da UEMS. “Veio ‘do céu’ essa oportunidade, não poderíamos perder. Também temos experiência dando aulas, nós trabalhamos para o ministério da Educação da Venezuela. Eu dei aula de Biologia no ensino médio e ele trabalhava com crianças de educação especial, também com alunos do ensino médio e na universidade”, destacou Luisa.
Leidimar Alejandra Jimenez Betancourt, de 32 anos, é Engenharia Petroquímica e irá cursar Química Industrial, também, na Unidade de Dourados. Ela veio para o Brasil com seu marido e dois filhos há três anos. Ela e a família também são venezuelanos. “Me formei em 2013, mas trabalhei apenas um ano em uma refinaria, com a crise não havia condições financeiras nem de pegar a condução para ir trabalhar, não tinha salário para comprar comida. Por isso viemos para o Brasil para ter oportunidade, pois a crise acabou com tudo, diploma não vale nada, vim atrás de uma vida melhor, pois lá médicos, engenheiros e outros profissionais trabalham em mercados vendendo qualquer coisa”, contou Leidimar.