Silvio Andrade
O primeiro hospital 100% especializado na fauna silvestre da América Latina está sendo construído pelo Governo do Estado no Parque Estadual do Prosa, em Campo Grande (MS). Com a construção a todo o vapor no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres – CRAS, o Hospital Veterinário de Animais Silvestres vai mudar a realidade do atendimento dos cerca de 3,8 mil animais que passam todos os anos por lá.
Outras duas obras ambientais estão em andamento no parque, com investimento total de R$ 10 milhões, recursos estes do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS). No encontro das nascentes que formam o córrego Prosa, está sendo construído o novo receptivo para visitantes. Com cerca de 300 metros quadrados inclui uma ampla sala de reuniões com paredes de vidro que fazem a perfeita integração do ambiente interno com a mata e o lago externos.
A mais emblemática é a recuperação da erosão na nascente do córrego Joaquim Português, tributário do Prosa, que ocorre dentro do parque. A erosão é resultado da enxurrada da parte alta da cidade que há muitos anos é direcionada ao local e se agravou com o aumento do asfaltamento da região. A consequência direta foi o assoreamento do lago principal do Parque das Nações Indígenas: em 2019, foram retirados 140 mil m³ de sedimentos do lago.
“São três grandes obras que, efetivamente, criam uma situação de melhor atendimento com ações de preservação e conservação do meio ambiente, e que permite que se estenda os benefícios ao Estado inteiro, isso no caso do CRAS”, observou o secretário Jaime Verruck, da Semagro (secretaria estadual de Meio Ambiente, Produção, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar)
Com 34 anos de atividade, o local foi um dos primeiros centros de reabilitação de animais silvestres do Brasil, conforme explica a médica veterinária Aline Duarte, coordenadora do CRAS.
“O nosso objetivo é a reabilitação do animal vítima de atropelamento, tráfico e apreensão e também de entrega voluntária. O CRAS recepciona os animais de todo o Estado e, uma vez que o animal chega, recebe o atendimento veterinário, passa por uma quarentena, para depois começar o trabalho de reabilitação”, disse.
Responsável por encaminhar os animais de diversas regiões do Estado para o CRAS na Capital, a Polícia Militar Ambiental (PMA) recebe apoio de voluntários no atendimento primário.
“Temos um atendimento primário e temos diversos veterinários do Estado que fazem voluntariamente para a gente, como Nova Andradina, que o pessoal fez até cirurgia em uma anta para estabilizar e depois a gente trazer”, informa Ednílson Paulino Queiroz, tenente-coronel da corporação.
Cooperação técnica
A espécie que mais chega ao CRAS para reabilitação são as aves. Segundo a PMA, a maioria são papagaios e, em agosto, o número de animais oriundos do tráfico aumenta já que inicia o período reprodutivo.
“Normalmente nosso problema é com o papagaio num período de retirada que começa a partir de agosto que é o período reprodutivo, até o mês de dezembro também são encaminhados para o centro de reabilitação pois os papagaios são todos filhotes’, acrescente Queiróz.
O médico veterinário e responsável técnico do CRAS, Lucas Cazati, conta que o centro recebe apoio de diversas instituições através de cooperações técnicas. Um exemplo é a parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
“Além da troca incessante de conhecimento entre as instituições, contamos com o apoio técnico com o Centro de Radiologia e Imagenologia da universidade, dando todo suporte aos animais vítimas de traumas automobilísticos e outros fatores. A universidade ainda colabora com o apoio laboratorial com realização de exames pré-cirúrgicos e de rotina. Hoje, a instituição nos auxilia com exames de alto grau de complexidade como o de microbiologia e DNA”, disse.
O hospital em obras
Aproximadamente dez profissionais trabalham atualmente no CRAS, entre médicos, biólogos, técnicos e tratadores, número que deve aumentar quando o Hospital Veterinário de Animais Silvestres estiver pronto. Em obras, o complexo terá 1.153,33 m² de área construída e concentrará todos os atendimentos, como triagem, exames, atendimento clínico, cirurgias e reabilitação. Orçado em R$ 3,8 milhões, o hospital ainda terá espaços administrativos, salas de cirurgia, ambientes para quarentena e laboratórios para exames.
O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária, Rodrigo Bordin Piva, destaca a importância da unidade hospitalar. Segundo ele, a construção da clínica do CRAS vem de encontro às necessidades da fauna sul-mato-grossense diante dos desastres ambientais e mortes por atropelamentos.
“Vimos nas queimadas de 2020 a importância do atendimento médico-veterinário aos animais que sofreram com a ação do fogo no Pantanal e no Cerrado. Depois do resgate das onças na Serra do Amolar (Pantanal de Corumbá), os animais receberam atendimento no CRAS. Portanto, com o hospital mais animais poderão ser reabilitados para retornarem ao seu habitat natural ou ainda terão chances de sobreviver aos desatares ou aos maus-tratos do homem”, ressalta.