Marcos Morandi*
Principal alvo da Operação Romeu Sierra Índia, a empresa SRI, com sede em Dourados e filial em Ponta Porã, na fronteira com Pedro Juan Caballero, já tinha sido alvo de denúncia em 2020 e também em fevereiro deste ano, por crimes financeiros cometidos, que geraram alguns boletins de ocorrência registrados na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário de Dourados).
De acordo com as acusações de pessoas atingidas pelos golpes, a empresa, que trabalhava com investimentos, na verdade operava com esquema de pirâmide. Uma advogada que na época denunciou os crimes, entre as vítimas podem estar políticos, empresários e até altos funcionários da Justiça.
Ainda não existem detalhes sobre o total de pessoas que perderam dinheiro pelas ações da empresa, entretanto, as cifras segunda já havia denunciado a advogada, são milionárias. Em depoimento à polícia de Dourados na época, ela afirmou ter perdido R$ 15 mil, na esperança de lucros de mais de 15% em cima do montante investido.
A operação deflagrada pela nesta quarta-feira envolve mais de 80 policiais em oito cidades. Só em Dourados, duas residências foram alvos de buscas e apreensão, uma vez que o prédio da empresa, que funcionava na Rua Monte Alegre foi desativado. Já em Ponta Porã, a empresa também mantinha um escritório nas proximidades do Hotel Pousada do Bosque.
Os policiais federais cumprem 02 mandados de prisão preventiva, 02 mandados de prisão temporária, 19 mandados de busca e apreensão nas cidades de Dourados, Campo Grande, Ponta Porã, Naviraí, Porto Murtinho, Amambai e Franca (SP) e Maringá (PR).
Sequestro de R$ 40 milhões
Além disso a operação também envolve o sequestro e bloqueio de mais de R$ 40 milhões de reais em bens móveis e imóveis da organização criminosa, bem como valores depositados em contas bancárias dos investigados, totalizando 44 ordens judiciais. Os mandados foram expedidos pela 5ª Vara Federal da Cidade de Campo Grande/MS, especializada em crimes financeiros e de lavagem de dinheiro.
As investigações tiveram início em 2020 após a Polícia Federal receber uma comunicação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), de que na cidade de Dourados funcionava uma empresa dedicada à captação de recursos de terceiros, para fins de investimentos no mercado de capitais, sem autorização da CVM.
Por meio de investigações, foi descoberto o funcionamento de organização criminosa especializada na captação de recursos de clientes sob a promessa de ganhos vultosos com aplicações no mercado financeiro de valores mobiliários.
A empresa investigada contava com um sofisticado e convincente sítio de internet, onde em seu manual de investimentos explicava aos clientes a forma como trabalhava e os principais tipos de produtos oferecidos. Todos com uma rentabilidade muito acima do mercado.
A área do cliente, acessado através de login e senha individual, contava com gráficos e planilhas explicativas onde eram discriminados os valores investidos e os ganhos auferidos com as supostas aplicações em bolsa feitos pela empresa em nome dos clientes, como se de fato fosse uma corretora de valores.
A empresa possuía faixas de investimentos, cujo rateio dos ganhos era feito da seguinte forma: Investimentos de R$ 1.000,00 até R$ 50.000,00, 50% dos ganhos eram do cliente e os outros 50% da empresa; Investimentos acima de R$ 50.000,00, 70% dos ganhos eram do cliente e o restante da empresa. Há casos em que investidores aplicaram na empresa mais de R$ 200.000,00 (Duzentos Mil Reais).
O principal investigado, como forma de convencer potenciais investidores, se apresentava aos clientes da empresa como um dos maiores day trader do país, o que as investigações provaram não ser verdade. Segundo levantamentos realizados, a maioria dos valores investidos no mercado de capitais resultou em grandes prejuízos para os investidores.
Com o aprofundamento das investigações, descobriu-se que pelas contas bancárias da empresa investigada em 02 anos circularam mais de 60 milhões (Sessenta milhões de reais). Parte dos quais, segundo os próprios investigados, foi remetida para Londres, no Reino Unido, após decisão da CVM de barrar as atividades da empresa, já que essa não possuía autorização do órgão regulador, para operar no mercado de capitais. Pelo descumprimento reiterado da stop order da CVM os sócios formais da empresa foram multados em R$ 600.000,00 (Seiscentos mil reais).
Segundo a PF, a organização criminosa era composta por 03 grandes núcleos: um integrado pelos sócios da empresa e pelos responsáveis pela aplicação dos valores no mercado de capitais, os quais se locupletaram da maior parte dos valores investidos pelos clientes; outro pelos corretores, responsáveis pela captação dos recursos dos investidores, para aplicação no mercado de valores mobiliários.
O terceiro núcleo está relacionado à ações de logística, já que a empresa, a fim de enganar os clientes, montou uma convincente estrutura que contava com página na internet, programas de gerenciamento de investimentos e um sofisticado manual do investidor. No auge do funcionamento, a empresa chegou a contar com mais de 2.000 clientes em todo o país.
A empresa investigada é alvo de dezenas de ações cíveis em todo o estado, nas quais os investidores lesados cobram na justiça a devolução dos valores aplicados e indenizações por danos morais e materiais.
O líder da ORCRIM também é investigado em outros estados da federação pela prática de crimes semelhantes. Uma parte considerável dos investidores lesados é composta por policiais de diversas instituições de segurança pública do estado.