Após 5 anos, buscas por 3 corpos da tragédia de Brumadinho continuam

Olhos e ouvidos atentos para as instruções de mais um dia de buscas na mina Córrego do Feijão. Já se passaram 1.826 desde o rompimento da barragem da Vale, em 25 de janeiro de 2019.

A Base Bravo é o ponto de apoio dos bombeiros. Lá eles comem, dormem e repassam o planejamento para encontrar as três vítimas da tragédia que ainda estão desaparecidas: Nathália de Oliveira Porto Araújo, Tiago Tadeu Mendes da Silva e Maria de Lurdes da Costa Bueno.

O tenente Henrique Barcellos vai ao encontro da equipe de reportagem do g1. Ele é o militar responsável por transmitir os avanços da “Operação Brumadinho”, a maior já feita pelo Corpo de Bombeiros em Minas Gerais.

Em seguida, entramos em uma picape e seguimos até o “mirante”, local de onde se pode ter uma vista panorâmica da área de buscas. Ao chegar, o horizonte das serras mineiras logo é ofuscado pela imaginação pictórica de um mar de lama que matou 270 pessoas — 267 delas identificadas.

“A gente tinha, na primeira estratégia, a possibilidade de encontrar pessoas com vida. Então, essa primeira estratégia foi uma busca incessante, ininterrupta, nas primeiras 72 horas, para que os militares conseguissem progredir nesse terreno com o uso de aeronaves, com o uso de técnicas específicas de busca e salvamento”, disse Barcellos.

Quando a esperança de encontrar vidas acabou, a operação precisou se adaptar. Cães passaram a rastrear o odor gerado na área de rejeitos, e o maquinário começou a cavar toneladas de lama.

“Desse material mais profundo, a gente conseguiu, através da busca visual pelos bombeiros militares, buscar algum segmento ou algum material de interesse que pudesse levar à identificação dessas vítimas”.

Desde agosto de 2022, os bombeiros seguem uma nova estratégia, a oitava.

Ela consiste em separar um material de interesse de outro que não pode ser vistoriado.

A partir daí, ele é levado a uma análise pericial.

Busca incessante

Cinco estações de busca na mancha de inundação, logo abaixo da barragem, processam o que é recolhido pelas máquinas. Esteiras separam os fragmentos maiores e os mais finos.

Dentro da cabine, um bombeiro e um operador observam atentamente. Dezessete militares se revezam em turnos nas estações, que funcionam ininterruptamente, 24 horas por dia.

Todos são treinados na inspeção visual para encontrar materiais que possam levar à identificação das “joias” desaparecidas, seja através de um segmento (resto mortal), objeto – como um crachá – ou alguma informação que leve a uma área prioritária de vistoria.

A qualquer hora, eles podem paralisar o equipamento e inspecionar o material que lhes pareça suspeito.

“Com a implementação dessa oitava estratégia, a gente acompanhou alguns índices de eficiência em torno do volume de rejeito vistoriado por militar. A gente saiu de 40 m³ por militar/hora para um volume de pouco mais de 100 m³”.

Com o novo método, 20 fragmentos humanos foram encontrados num período de um ano e meio — o último, em dezembro de 2023. Já a última identificação de vítima ocorreu em dezembro de 2022.

Segundo o tenente Henrique Barcellos, o tempo de continuidade da operação vai depender da viabilidade técnica da perícia sobre os segmentos encontrados.

“A gente percebe que a motivação se renova ao longo desses cinco anos, porque, desde o início da carreira, nós somos formados para cumprir a missão, né? Desde as tarefas mais simples, na época da formação, em cursos, até as tarefas e emergências mais complexas durante atendimentos. A gente sabe que cada militar que passa por aqui tem esse propósito individual”, contou.

G1*