Lucro da pecuária recua no 1º trimestre com pressão de alta dos insumos

A margem operacional da pecuária de corte recuou entre janeiro e março deste ano, segundo estudos realizados pelo Projeto Campo Futuro, parceria entre a CNA-Senar e o Cepea, da Esalq/USP. No período, as margens líquidas acumularam queda de 7,96% na média nacional dos sistemas de produção de cria, devido à alta de 3,77% no Custo Operacional Total (COT) e à redução de 2,62% na receita bruta.

No caso dos sistemas de recria e engorda da pecuária, a redução de 0,68% no COT observada de janeiro a março – influenciada pela queda nos preços de reposição – foi suplantada pelo recuo de 1,76% na receita das propriedades amostradas, resultando, também, na retração das margens. Para o mesmo período, os sistemas de recria e engorda apresentaram diminuição de 5,25% na margem líquida, também na média nacional.

Segundo levantamento divulgado pelo Cepea, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem impactado intensamente os preços de insumos de interesse do setor agropecuário brasileiro, em um momento em que a economia global ainda não havia se recuperado dos efeitos da pandemia de Covid-19.

“A análise do comportamento dos custos de produção da pecuária de corte corrobora a afirmação de que o conflito europeu trouxe efeitos diretos e indiretos à bovinocultura de corte do Brasil”, destaca o documento do Cepea.

No segmento de combustíveis, observa-se, desde janeiro de 2022, um aumento de 14,7% nas cotações do diesel comum. Os preços do combustível vêm acompanhando a tendência observada em 2021 – até março do ano passado, os valores já haviam subido 15,4%.

A propriedade típica de ciclo completo em Redenção (PA), que trabalha com integração lavoura-pecuária, apresentou alta de 8,3% nos seus gastos com a mecanização, sendo as operações mecânicas responsáveis por 17,4% do COT em março/22 para tal sistema. Já no sistema de cria extensiva de Araguaçu (TO), observou-se aumento de 9% nos custos de mecanização nos primeiros três meses de 2022, representando 17,9% do COT em março.

“Além do efeito nos custos de mecanização dos sistemas, é importante destacar que o avanço observado nos preços de combustíveis acaba afetando a precificação de todos os insumos, uma vez que impacta nos seus custos de transporte”, destaca o levantamento.

Dentre os grupos de insumos utilizados pelas propriedades de pecuária de corte, a categoria de fertilizantes, além de ter seus preços finais impulsionados pela alta nos custos de frete, também tem influência direta do atual cenário global. Mesmo com as estimativas de que o estoque brasileiro de fertilizantes é suficiente para suprir as demandas do país até outubro de 2022, o documento do Cepea destaca o papel da Rússia como parceiro comercial estratégico do mercado de fertilizantes, dada a alta dependência brasileira das importações de tais produtos.

Ao analisar a relação entre os valores de referência para a reposição (Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa) e da comercialização de animais (Indicador do boi gordo CEPEA/B3) com as cotações de fertilizantes, ou seja, quantos quilos de fertilizante são possíveis de se adquirir por arroba comercializada, o Cepea observa que, do início de 2021 em diante, o poder de compra dos pecuaristas tem caído significativamente. Março foi especialmente desfavorável para a compra de KCl, com quedas de 21% e 25% nas relações entre o preço do insumo e os Indicadores do boi gordo e do bezerro em comparação ao mês anterior.

Impacto do mercado de grãos na pecuária

Além dos efeitos observados nos preços de insumos agrícolas, a turbulência no continente europeu também teve reflexos no mercado nacional de grãos, devido ao aumento da procura pelos cereais brasileiros. Motivados pelos valores elevados nos portos e também sustentado pela demanda no mercado interno, houve um aumento significativo nos preços do milho em março/22. No mês, o Indicador do milho ESALQ/BM&FBovespa atingiu novos recordes nominais, chegando a fechar a R$ 103,90/sc de 60 kg.

Já em abril, os valores do cereal passaram a cair, pressionados retração na demanda pelo cereal, pela desvalorização do dólar e por boas perspectivas de produção na segunda safra de milho. Assim, em abril, o cereal já era negociado na casa dos R$ 80/sc de 60 kg.

Não obstante, o poder de compra dos terminadores frente ao milho fechou março/22 com queda de 2% em relação ao mês anterior. No período, foi possível a aquisição de 207,7 kg de milho por arroba comercializada, contra 210,8

kg em fevereiro. Já na média parcial de abril (até o dia 14), houve uma inversão deste cenário, com a possibilidade de se adquirir 226,5 kg de milho.

Diante da volatilidade nos preços, o Cepea diz que é preciso cautela na hora de negociar a aquisição dos insumos em todos os sistemas da pecuária, independente do nível de tecnificação.

“Os desdobramentos no cenário geopolítico internacional, bem como do avanço da segunda safra de grãos nacional, auxiliarão a guiar as tomadas de decisão que irão garantir o sucesso da atividade no curto prazo. A gestão dos sistemas deve partir da análise de seus potenciais gargalos e oportunidades, sempre pautados em conhecimentos técnico e econômico”, ressalta o Cepea.

Canal Rural*