Atraso na semeadura do trigo evitou perdas com geadas

O excesso de umidade no solo nos meses de maio, junho e julho provocou atrasos na semeadura do trigo no Rio Grande do Sul.

Ainda em desenvolvimento vegetativo, as lavouras não sofreram perdas com às geadas ocorridas no final de agosto.

O clima frio e seco trazido pelo fenômeno La Niña também está favorecendo as lavouras, que apresentam potencial de rendimentos que podem superar as expectativas iniciais.

Com o grande volume de precipitações que coincidiram com a época de semeadura do trigo no RS, a implantação das lavouras foi atrasada.

Contudo, o atraso evitou as perdas com geadas no período crítico da cultura, na floração e no espigamento.

De acordo com o Informativo Conjuntural da EmaterRS, no momento apenas 18% das lavouras estão em floração, enquanto no ano passado 27% estavam em floração nesta época.

“Tivemos quatro geadas fortes, com temperaturas negativas registradas no mês de agosto. Só verificamos danos nas lavouras mais adiantadas e localizadas nas áreas de maior risco, como nas baixadas e encostas de mata”, conta o engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Marcelo Klein.

La Niña

O Brasil está sob incidência do fenômeno La Niña desde o começo do inverno, no final de junho.

Na Região Sul, o La Niña é marcado pela oscilação de temperaturas e distribuição irregular de chuvas.

De acordo com o analista do laboratório de agrometeorologia da Embrapa Trigo, Aldemir Pasinato, a condição de La Niña é muito favorável ao cultivo de cereais de inverno.

“O trigo gosta de frio e pouca chuva, condições que permitem às plantas se desenvolverem livre de pragas e fungos”.

Segundo ele, La Niña deverá se manter até o final da safra de inverno, com tendência de chuva abaixo da média, mas concentradas em poucos dias. Ainda são esperadas frentes frias e massas de ar frio em setembro, com temperaturas mínimas próximas aos 5ºC nas regiões tritícolas, mas com reduzido risco para geadas tardias nas lavouras.

La Niña é um fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento das águas superficiais das partes central e leste do Pacífico Equatorial, o que provoca mudanças na circulação atmosférica tropical, impactando nas temperaturas e no volume de chuva em todo o mundo.

Supersafra de trigo

A produtividade do trigo no Rio Grande do Sul está estimada em 50 sacos por hectare (sc/ha), ou cerca de 3 mil kg/ha. Mas, até o momento, as condições das lavouras demonstram potencial para ultrapassar 60 sc/ha na média.

“Com novos herbicidas no mercado, os produtores conseguiram fazer um bom controle do azevém, evitando competição desta invasora com o trigo na lavoura. Ainda, a eficiência no uso da adubação nitrogenada foi elevada visto que, no momento da aplicação, as precipitações foram moderadas”, avalia Marcelo Klein, após uma rodada de visitas a lavouras no norte e noroeste do RS, onde está concentrada a produção de trigo no estado.

“No quesito às doenças, não verificamos grande incidência de manchas foliares, apenas oídio, mas em baixa frequência e controle satisfatório que não deverá impactar no rendimento final”, conclui.

Historicamente, a primavera é o momento que define a safra de trigo, implicando em problemas como doenças, geadas tardias e chuva na colheita.

Contudo, nesta safra, as previsões são mais otimistas para o trigo gaúcho com presença marcada do fenômeno La Niña, segundo o Boletim Agroclimático do Inmet.

“O La Niña tem atuado no inverno gaúcho nos últimos três anos, mas a concentração de chuvas na primavera nem sempre resultou numa safra positiva. Porém, até o momento, a perspectiva é de chuvas abaixo da média até a colheita”, lembra Aldemir Pasinato.

Na estimativa da Conab, a safra de trigo no RS deverá superar os 4 milhões de toneladas, maior volume já produzido na história. Com volume semelhante, no Paraná são esperadas outras 3,89 milhões de toneladas.

Produtores gaúchos e paranaenses deverão produzir 86% do trigo brasileiro nesta safra.

Os números da Conab apontam para uma supersafra de trigo no Brasil, chegando a 9,16 milhões de toneladas de grãos, volume 19% superior à safra passada. O volume deverá atender 70% da demanda nacional de trigo, estimada em 12,7 milhões de toneladas.

Canal Rural*

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